Procurar
coisas cansa. Não falo daquele cansaço físico, que nos acomete quando reviramos
cada gaveta do guarda-roupa, atrás daquela blusa
xadrez-de-algodão-perfeita-para-usar-hoje. Refiro-me à vontade inexorável de se
jogar no sofá que sentimos depois de passar horas buscando objetos perdidos. A
angústia de não saber onde encontrá-los transforma o transcurso de alguns
minutos na sensação de que se passaram horas.
Recentemente
meus pais pediram-me para resolver alguns problemas da família. Questões
burocráticas, que envolvem documentos de pessoas falecidas há mais de vinte
anos, certidões de nascimento, casamento e óbito, registros de imóveis etc. "Está
tudo aqui nessas pastas", disse minha mãe, com a tranquilidade típica dos
acumuladores convictos e felizes. Só que não estava.
O
inventário da casa está pendente há trinta e cinco anos. Não, o leitor não leu
errado. Meu pai não recebe, há mais de dez anos, a pensão por morte da esposa,
pois não que tinha
direito
a esse benefício. Documentos pessoais e do imóvel estavam espalhados em três
cômodos diferentes da casa. Pilhas de papéis inúteis cobriam o chão da sala à
medida que eu procurava, e procurava, e procurava. Os papéis importantes, a
maioria deles havia sumido.
Foi
aí que lembrei do quartinho da bagunça, que fica nos fundos da casa. "Não
tem nada ali, Raquel, há muito tempo deixamos de usá-lo, por causa da umidade",
insistiu mamãe. Mas eu aprendi que não importa o tamanho desse tipo de cômodo; com
o tempo, a tralha ocupa-lhe cada centímetro. Aquele quarto estava com os dias
contados.
Domingo
passado, família reunida para decorar a casa para o Natal, música tocando. "É
hoje!", pensei. Tiramos tudo de dentro do cômodo (obrigada pela força,
Aninha!). O destino? a maior parte foi doada a um brechó solidário e o resto foi
para o posto de coleta de recicláveis do bairro. Até o armário foi doado, já
que não temos intenção nem necessidade de guardar coisas lá de novo. Sobrou
apenas um pneu semi-novo, por cuja permanência mamãe argumentou bravamente.
Vencido
o quartinho da bagunça, decidi vasculhar as coisas da minha irmã E., que ficam
guardadas em um escritório na casa dos meus pais. Abri pasta por pasta. Ela
franzia a testa, suspirava, resmungava, na tentativa de justificar a quantidade
de tralha, enquanto eu via cada papel como um obstáculo a uma vida simples. No
final, o quarto dela voltou a ser habitável, digo organizado, e encontramos todos
os documentos de que precisávamos. Eu estava suja, cansada e feliz.
O
valor da simplicidade muitas vezes só pode ser medido quando as coisas não
estão nada simples.
Siiim! Quando a gente tem muita tralha, fica difícil encontrar o que precisamos. E quando o objeto, como um documento, é insubstituível? Aí a coisa fica feia mesmo.
ResponderExcluirQue bom que você conseguiu achar o que procurava. E ainda destralhou e organizou no processo, hohoho.
Foi muito bom mesmo, Lud! O bichinho do minimalismo tá pegando na família inteira.
ExcluirNossa, é uma loucura. Toda vez que preciso procurar algo que o Luis guardou, até perco a paciência. É um estresse!
ResponderExcluirBota ele pra ler Marie Kondo, Stefanie rs
ExcluirQue injustiça com o Luis, Stéfanie! Ele fica tão preocupado em guardar bem as coisas que, às vezes, não consegue achar depois.
ResponderExcluirRodrigo, nada de desculpas anti-minimalistas neste blog :D
ResponderExcluirIsso me lembra de uns anos atrás quando fiz algo parecido aqui em casa! Infelizmente as coisas não mudaram muito depois disso, mas esse ano mudei de tática e resolvi presentear minha mãe com o livro da Marie Kondo no Natal! rs Vai que cola, né?
ResponderExcluirBesos, Tate