terça-feira, 17 de novembro de 2015

Benefícios do minimalismo #1 O valor de achar o que procuramos

Procurar coisas cansa. Não falo daquele cansaço físico, que nos acomete quando reviramos cada gaveta do guarda-roupa, atrás daquela blusa xadrez-de-algodão-perfeita-para-usar-hoje. Refiro-me à vontade inexorável de se jogar no sofá que sentimos depois de passar horas buscando objetos perdidos. A angústia de não saber onde encontrá-los transforma o transcurso de alguns minutos na sensação de que se passaram horas.

Recentemente meus pais pediram-me para resolver alguns problemas da família. Questões burocráticas, que envolvem documentos de pessoas falecidas há mais de vinte anos, certidões de nascimento, casamento e óbito, registros de imóveis etc. "Está tudo aqui nessas pastas", disse minha mãe, com a tranquilidade típica dos acumuladores convictos e felizes. Só que não estava.

O inventário da casa está pendente há trinta e cinco anos. Não, o leitor não leu errado. Meu pai não recebe, há mais de dez anos, a pensão por morte da esposa, pois não que tinha
direito a esse benefício. Documentos pessoais e do imóvel estavam espalhados em três cômodos diferentes da casa. Pilhas de papéis inúteis cobriam o chão da sala à medida que eu procurava, e procurava, e procurava. Os papéis importantes, a maioria deles havia sumido.

Foi aí que lembrei do quartinho da bagunça, que fica nos fundos da casa. "Não tem nada ali, Raquel, há muito tempo deixamos de usá-lo, por causa da umidade", insistiu mamãe. Mas eu aprendi que não importa o tamanho desse tipo de cômodo; com o tempo, a tralha ocupa-lhe cada centímetro. Aquele quarto estava com os dias contados.

Domingo passado, família reunida para decorar a casa para o Natal, música tocando. "É hoje!", pensei. Tiramos tudo de dentro do cômodo (obrigada pela força, Aninha!). O destino? a maior parte foi doada a um brechó solidário e o resto foi para o posto de coleta de recicláveis do bairro. Até o armário foi doado, já que não temos intenção nem necessidade de guardar coisas lá de novo. Sobrou apenas um pneu semi-novo, por cuja permanência mamãe argumentou bravamente.

Vencido o quartinho da bagunça, decidi vasculhar as coisas da minha irmã E., que ficam guardadas em um escritório na casa dos meus pais. Abri pasta por pasta. Ela franzia a testa, suspirava, resmungava, na tentativa de justificar a quantidade de tralha, enquanto eu via cada papel como um obstáculo a uma vida simples. No final, o quarto dela voltou a ser habitável, digo organizado, e encontramos todos os documentos de que precisávamos. Eu estava suja, cansada e feliz.

O valor da simplicidade muitas vezes só pode ser medido quando as coisas não estão nada simples.

7 comentários:

  1. Siiim! Quando a gente tem muita tralha, fica difícil encontrar o que precisamos. E quando o objeto, como um documento, é insubstituível? Aí a coisa fica feia mesmo.

    Que bom que você conseguiu achar o que procurava. E ainda destralhou e organizou no processo, hohoho.

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    1. Foi muito bom mesmo, Lud! O bichinho do minimalismo tá pegando na família inteira.

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  2. Nossa, é uma loucura. Toda vez que preciso procurar algo que o Luis guardou, até perco a paciência. É um estresse!

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  3. Que injustiça com o Luis, Stéfanie! Ele fica tão preocupado em guardar bem as coisas que, às vezes, não consegue achar depois.

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  4. Rodrigo, nada de desculpas anti-minimalistas neste blog :D

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  5. Isso me lembra de uns anos atrás quando fiz algo parecido aqui em casa! Infelizmente as coisas não mudaram muito depois disso, mas esse ano mudei de tática e resolvi presentear minha mãe com o livro da Marie Kondo no Natal! rs Vai que cola, né?
    Besos, Tate

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